Apresentamos-te Graça Paz, uma artista cuja obra transcende os limites da arte têxtil e da pintura, criando uma narrativa rica e emocional através da transformação dos materiais mais simples. Nascida no Porto, num ambiente dedicado à música clássica, cedo desenvolveu uma sensibilidade única, que se reflete na sua abordagem artística. Formada em Design de Moda, a sua prática é uma fusão de técnicas e influências, onde o bordado, o desenho e a pintura se encontram, com uma forte ligação à memória feminina e à beleza do imperfeito.
A mudança para São Paio de Antas (Esposende) em 2010 levou-a a um mergulho ainda mais profundo na introspeção e na observação da natureza. Com a serenidade do campo à sua volta, Graça passou a olhar para o quotidiano com um novo olhar, revelando em cada peça a poesia do simples e do efémero, onde cada material e cada gesto de criação é uma celebração da fragilidade e da transformação.
O que inspira o seu trabalho?
Sem dúvida nenhuma a minha corrente de pensamento, o estudo de várias áreas, a psicologia emocional, o amor como fonte de estudo, a música e a ligação em termos de frequências com a obra em si e a cor, o momento da vida inserido num contexto e num determinado período de tempo individual e colectivo. Mundial. Universal.
Qual é o seu processo criativo?
Eu diria que é uma conversa que se gera, que sai de dentro de mim e se manifesta em formas e cores, de série em série. Para isso preciso de disciplina e ordem, e já existe um processo criativo que começa pela formação de uma ideia, em geral bastante clara, e depois a preparação do suporte que é em si pura poesia, e o avançar para as cores, e o trabalho constante de apoio de cadernos de artista. Faço dias de inspiração em que reviro revistas e livros, faço desenhos e esquiços, e tomo notas, muitas notas!
Como é que sente que o seu estilo evoluiu ao longo dos anos?
Sem dúvida alcançou o meu objetivo, e imagino que seja o de todos os artistas. Fundamentou-se a minha identidade visual, de forma a que os meus quadros ou obras sejam reconhecidos sem a necessidade de uma assinatura que o valide.
Passou por muitas etapas até eu mergulhar de cabeça num tema que sempre me fascinou. O abstracionismo geométrico. Até chegar lá, andei à procura de mim um pouco à deriva. Depois desse marco, nunca mais tive dúvidas e nunca mais me aborreci.
Entretanto nessa evolução, veio juntar-se a minha formação como Designer de moda (que nunca me foi de grande utilidade) até eu perceber que também aquele curso tinha um papel nesta identidade, e que trouxe para a minha obra uma mix media de tecidos, bordados, panos antigos ou novos, e novamente formas geométricas e cores.
Que conselhos daria a quem possa estar a começar no mundo das artes
Consistência e disciplina são as pedras basilares para se construir uma carreira artística. Podemos não saber o caminho, podemos não saber aquilo que realmente queremos ser como artistas, mas se houver a disciplina de ir todos os dias a esse lugar, físico, ou mental, e a consistência de algum trabalho diário há uma mundo de possibilidades e as respostas surgem naturalmente.
Não são desculpas, os filhos, e nem o trabalho que paga as contas para que se comece. Começar é onde se está, e pode ser na mesa da cozinha meia hora todas as noites. Tenho experiência pessoal que valida isso.
É também, a meu ver, fundamental aprender a comunicar a arte de um lugar de verdade e com sabedoria fundamentada na experiência e interesses pessoais. Num momento do mundo em que se abriram as portas para a comunicação de qualquer tipo de arte, e essa comunicação se democratizou, saindo das quatro paredes de uma galeria, e responsabilizando mais o artista, quanto mais verdadeira e íntegra for essa comunicação mais o trabalho atrai.
Peça ou coleção favorita?
É o mesmo que me perguntarem se tenho uma cor favorita! Não tenho uma peça favorita, porque elas representam diferentes etapas da minha vida e como tal, amo-as a todas quando as liberto para o mundo. Quando terminou uma série, terminou algo com ela.
Algum projeto ou exposição futura que a esteja a entusiasmar e possa partilhar connosco?
Uma obra muito gira que estou a fazer para um hotel em Lisboa, adoro trabalhar com espaços públicos, mas sobretudo cada projecto que faço para cada cliente que me procura, são pequenas obras, ou maiores, que preenchem o meu dia a dia. Não sou super ambiciosa para conseguir coisas enormes, considero que alcancei na vida um lugar que me é muito confortável e que me faz acordar com ganas de viver e esse é o meu maior projecto!
Descobre mais sobre as peças da artista em GRAÇA PAZ.